Header Ads

Posts recentes
recent

Contos de fadas são escapismo para a realidade em O Labirinto do Fauno

Com sua mãe debilitada sofrendo por uma gravidez delicada e um padastro comandante militar violento e sádico, a garota Ofelia, neste drama retratando a ditadura franco-espanhola de 1944, se vê irresistivelmente atraída pelo conto de uma princesa subterrânea que retornará no corpo de uma mortal, uma atração por universo mágico que serve como forma de escape à realidade de uma mãe em estado terminal e uma Espanha traumatizada por uma guerra civil, e este recente fato permeia toda a parte técnica do filme, a fragilidade das vestimentas dos perdedores e os altivos vencedores em elegantes uniformes, a fotografia faz pairar ao ar um tom azulado, meio escuro, que cria uma ligeira impressão de se estar vivenciando uma lembrança não muito clara, porém dolorosa. 


Há quem interprete a fuga da realidade no longa de Guillermo Del Toro como uma grande questão de quem prefere se alienar durante uma guerra, a interpretação é possível porém acredito que esteja também ligado a questão de utopia, da substituição subjetiva do real indesejado pelo irreal desejado, irreal alcançado através da fantasia, a historinha que Ofelia criou para que aquele contexto opressivo se tornasse tolerável, digerível. E é notável ao decorrer da narrativa que os elementos irreais (uso aqui como exemplo a raiz mágica para curar a mãe ou o giz mágico para capturar o irmão) são sobrepostos ao fim pela realidade cruel e imutável (quando a mãe dela ao fim acaba por sofrer quando a raiz é queimada ou ela é eventualmente pega pelo padastro quando tenta sequestrar o irmão), e essa relação "real-irreal-real" fica ainda mais clara ao fim.

Uns com fome e outros com uma mesa muito maior do que podem comer
Interessante também é como a história dos rebeldes e da Ofelia se relacionam, ambos estariam lutando contra a repressão fascista por meio duma espécie de utopia, no caso dos rebeldes a esperança de, mesmo em menor número e com toda a lógica contra, vencer os militares (mas como Cassian diz, "rebeliões são construídas sobre esperança"), e no caso da Ofelia o de que criaturas mágicas estão destinando ela a fugir daquele mundo horrível (a comparação fica ainda mais clara em momentos de intersecção de cena para deixar claro que o antagonista, para os dois, é o mesmo). A comparação mais óbvia é com Alice no País das Maravilhas, a diferença é que enquanto o buraco do coelho, para Alice, é a escolha entre viver uma utopia infantil ou a adulta realidade O Labirinto do Fauno deixa claro que não existe utopia, porém, o mundo do possível só pode ser visto em seu esplendor com o auxilio do vislumbre de uma utopia impossível.

Nenhum comentário:

@ArturAlee #GeekDeVerdade. Tecnologia do Blogger.