Quando Heráclito, Parmênides e Tales de Mileto encontram Naruto, Inception e A Forma da Água
Aqui em baixo um trabalho de filosofia que decidi postar no blog. Explico três filósofos pré-socráticos, relacionando com algum filme (ou anime, no caso de Naruto) que eu goste. Estes sendo, respectivamente, os do título.
Heráclito
Heráclito
chama atenção para a perene mobilidade de todas as coisas que são: nada
permanece imóvel e nada permanece em estado de fixidez e estabilidade, mas tudo
se move, tudo muda, tudo se transforma, sem cessar e sem
exceção. Heráclito exprime essa verdade pelo exemplo da imagem do fluir de
um rio:
De
quem desce ao mesmo rio vêm ao encontro águas sempre novas.
O
sentido é claro: o rio é aparentemente sempre o mesmo, mas na realidade é feito
sempre de águas novas, que se acrescentam e se dispersam; por isso a mesma água
não pode descer duas vezes.
Portanto,
nada permanece e tudo devém, ou seja, apenas o devir das coisas é permanente,
no sentido de que, para Heráclito, as coisas não tem realidade senão o devir.
(o eterno vir a ser). Todavia, a filosofia de Heráclito está bem longe de
se reduzir à mera proclamação do fluxo universal das coisas: com efeito, para
ele esta é a constatação de partida para umas inferências muito mais agudas e
profundas, que agora devemos tentar individualizar e precisar.
O fogo como princípio de todas
as coisas
O
fogo é o elemento fundamental (arche) e todas as outras coisas não são mais que
transformações do fogo.
O
fato de Heráclito ter atribuído exatamente ao fogo a “natureza” de todas as
coisas torna-se claro quando se trazem à mente que o fogo exprime de modo
paradigmático as características da perene mutação.O fogo é vida que vive da
morte do combustível, é incessante transformação em fumaça e cinzas.
No audiovisual
A animação
japonesa Naruto explana muito bem algumas ideias de Heráclito. Por exemplo o
logos, representado por Heráclito como “a vontade de fogo”, uma espécie de
sabedoria do universo que estaria presente em todas as coisas físicas tanto literal
como metaforicamente. A história de Naruto se passa em décadas diferentes,
todos os personagens mudam, o mundo muda, a própria vila de Konoha, em que
reside o protagonista, muda, apenas algo não muda: a vontade de fogo, esta
sendo a de Naruto em se tornar Hokage. Ele reage as mudanças mas a vontade é o
fogo que permanece.
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primeiro episódio do Naruto |
A ideia de nunca se passar no mesmo
rio duas vezes, já que a pessoa em questão e o rio não serão mais os mesmos.
Assim também acontece com um balanço em que Naruto eventualmente repousa, a
vila e a academia em volta do balanço mudam, assim como o personagem está
sempre em evolução, e sempre quando o ninja vai ao tal balanço, não é a mesma
pessoa nem o mesmo balanço da anterior.
![]() |
Fanart do último episódio |
Parmênides
Conta-se que, lá pelo ano 450 a.C., aos 65 anos de idade,
Parmênides visitou Atenas, acompanhado pelo mencionado discípulo. Na ocasião,
veio a conhecer um jovem ateniense chamado Sócrates, rapaz de compleição
robusta e de rude aspecto, rosto grande e redondo, olhos fundos e arregalados,
nariz largo e cabeça que lembrava a de um carregador, o mesmo que um dia
passaria à História como o mais célebre dos filósofos.
Um dos encontros entre os dois foi registrado por Platão, num de seus diálogos, intitulado Parmênides, no qual este defende sua teoria da unidade do Ser e troca ideias com Sócrates, que, ainda segundo Platão, aprendeu muito com o mestre de Eléia.
Um dos encontros entre os dois foi registrado por Platão, num de seus diálogos, intitulado Parmênides, no qual este defende sua teoria da unidade do Ser e troca ideias com Sócrates, que, ainda segundo Platão, aprendeu muito com o mestre de Eléia.
Essa corrente filosófica exercerá importante influência no período clássico da filosofia helênica, que culminou com Aristóteles: este foi discípulo de Platão, que foi discípulo de Sócrates, que foi discípulo de Parmênides, que Aristóteles chamará de grande.
Ao identificar o real e o racional, Parmênides antecipou-se a Hegel, filósofo alemão, que, no século XIX, defenderá a tese de que "tudo o que é racional é real, e tudo o que é real é racional".
A
existência do nada como uma contradição
Para ele, afirmar a existência do nada é uma contradição.
"Tudo não apenas deve ser sem-princípio e não-criado, mas também eterno e
imperecível. Ainda pela mesma razão não pode haver lacunas na realidade, partes
dela onde nada existe: a realidade deve ser contínua consigo mesma em todos os
pontos; todo o espaço deve ser preenchido, um 'plenum'. O Universo constitui
uma única entidade realmente imutável. Tudo é Um."
Surpreendentemente, dizem os estudiosos, essa visão científica do Universo, preconizada por Parmênides há 2.500 anos, é muito parecida com a desenvolvida por cientistas do período histórico que vai do século XVII ao século XX, entre os quais se contam Newton e Einstein.
Surpreendentemente, dizem os estudiosos, essa visão científica do Universo, preconizada por Parmênides há 2.500 anos, é muito parecida com a desenvolvida por cientistas do período histórico que vai do século XVII ao século XX, entre os quais se contam Newton e Einstein.
No
audiovisual
Depois do surto cientifico do século XX, que nos fez entender
a vida e universo de forma muito mais prática, algo continua nos fazendo falta:
entender a nós mesmo. Olhar para si e entender porque pensamos, temos memórias perdidas
a curto prazo e lembradas aleatoriamente a longo prazo, ou até mesmo a natureza
do sonho.
O filme
de Chistopher Nolan ‘A Origem’, mais conhecido pelo título original Inception,
encontra Parmênides no contestar da realidade, separar, assim como o filosofo,
a racionalidade do realismo, mostrando que uma não depende da outra para
existir.
Tales de Mileto
Esses filósofos da natureza ensinavam
outras pessoas a usar a própria razão, a pensar por si mesmas. Foram os
primeiros mestres a não tentar transmitir um corpo de conhecimento puro e
intacto, inviolável; ao contrário, encorajavam seus discípulos a discutir e
argumentar, a propor ideias próprias. Pode-se dizer assim que os filósofos
da natureza deram os primeiros passos para o estabelecimento de um modo científico de se pensar, fundamentando todas as ciências naturais
que surgiram depois.
Sobre Tales:
A pergunta que mais obcecava era: “De que é feito o mundo”?
Parecia-lhe que um único elemento deveria ser a origem e o fim de tudo. Sendo
assim, Tales dizia que a água era a origem de todas as coisas. Então toda
forma de vida teria surgido na água, e deveria retornar à água.
Do que o mundo é feito ?
Quando
esteve no Egito, certamente Tales pôde observar no delta do Nilo como os campos
inundados se tornavam férteis depois que as águas recuavam. Toda porção de
terra chegava ao fim à beira d’água. Talvez Tales tenha visto como os sapos
saltam da água e como o campo fica verde após a chuva. É portanto provável que
este filósofo da natureza tenha especulado como a água se transforma em gelo e
vapor, e depois retorna à forma líquida. Todas as coisas vivas precisam de uma
enorme e constante ingestão de água para continuar a viver (de fato, nossos
corpos são 60 por cento água). Tales pensou que toda a terra estava flutuando
na água, tendo depois emergido e sendo por isso constituída de água.
O que Nietzche pensa do homem
“A Filosofia grega
parece começar com uma ideia absurda, com a proposição: a água é a
origem e a matriz de todas as coisas. Será mesmo necessário determo-nos nela e
levá-la a sério? Sim, e por três razões: em primeiro lugar, porque essa
proposição enuncia algo sobre a origem das coisas; em segundo lugar, porque o
faz sem imagem e fabulação; e, enfim, em terceiro lugar, porque nela, embora
apenas em estado de crisálida (estado latente, prestes a se transformar), está
contido o pensamento: “Tudo é Um”. A razão citada em primeiro lugar deixa Tales
ainda em comunidade com os religiosos e supersticiosos, a segunda o tira dessa
sociedade e o mostra como investigador da natureza, mas, em virtude da
terceira, Tales se torna o primeiro filósofo grego.” - Friedrich Nietzsche, A
Filosofia na Idade Trágica dos Gregos.
No audiovisual
O grande vencedor do Oscar de 2018 foi A Forma da Água, filme de
Guillermo Del Toro com algumas metáforas que podem ser relacionadas a teoria de
Tales de Mileto porque ele acreditava que a essência das coisas vinha da água, literalmente,
explicito no filme nos momentos em que tudo se mostra submerso na água e no
meio de conexão que o sereio tem com as outras coisas.
A água é
na psicologia filosófica muito importante, já que simboliza o afeto e o
moldar-se, visto que o liquido se transforma no formato daquilo que é colocado
sobre. O título A Forma da Água faz alusão a esta ideia de liquidez, mudar-se a
adaptar-se.
Fontes:
https://www.youtube.com/watch?v=QZgpXc09MqU, vídeo do canal Meteoro Brasil publicado em
14 de agosto de 2018, “Naruto e o Logos”.
Citando:
GAARDER, Jostein. O mundo de sofia. Romance da história da filosofia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
Jornal A Razão, de abril de 2009, www.arazao.com.br. Parmênides: tudo é um, José Alves Martins
Friedrich Nietzsche, em A Filosofia na Idade Trágica dos Gregos
Luce, John Victor; Curso de Filosofia Grega do Séc. VI a.C. ao Séc. III d.C. ; Trad. Kury, Mário da Gama; Jorge Zahar Editor; Rio de Janeiro, RJ; 1994
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