A insônia e a arte em Animais Noturnos
Logo nas primeiras sequências percebemos o estilo David Lynch na abertura com obesas numa exposição de arte conceitual numa grande galeria de arte em Los Angeles, cuja curadora é Susan (Amy Adams), naquele instante vivendo o topo da sua bem sucedida carreira como empresária de arte. Susan é bela, altiva, com um estilo de vida extravagante numa imensa casa com grandes portões de aço polido e esculturas abstratas em seu quintal. Estilo de vida este bancado por seu marido, que aparentemente está a traindo.
Susan abandonou suas próprias ambições de ser artista na juventude, e agora é apenas uma empresária especialista em peças artísticas contemporâneas, com um ar blasé, vivendo uma vida minimalista chique e com uma pesada maquiagem que mais parece uma máscara para proteger a si mesma dos outros. Mas também para esconder as marcas de noites mal dormidas, já que, para ela, dormir apenas significa um acomodo a sua vida melancólica e superficial.
E não é apenas a estes "animais noturnos" que o titulo se refere: ela recebe pelo correio o manuscrito original de um romance inédito do seu primeiro marido, Edward, de quem não tinha notícias há 20 anos e cuja lembrança é de um jovem sensível e intelectualizado, com o sonho de trabalhar em uma livraria e tornar-se um escritor. Romance que ela irá ler em suas madrugadas. O ex marido era um idealista quanto a arte - motivo que a fez se apaixonar - mas impregnada pelos pensamentos aproveitadores da sua mãe foi atrás dum homem com mais ($) a oferecer (como Elis Regina prevê, "como nossos pais...").
A insônia de Susan a faz embarcar na leitura dos originais do novo romance de Edward: um thriller brutal – um homem de família sensível e intelectualizado chamado Tony (imaginado por Susan como Edward no papel) dirige seu carro com esposa e filha adolescente por uma estrada remota à noite no interior do Texas, noite esta com um desfecho previsivelmente horroroso -, e horrorizada Susan lê, a ficção (será?) escrita pelo seu ex-marido e que a leva por um caminho de lembranças de seu primeiro relacionamento, onde o inocente idealismo juvenil foi forçado ao fim pelo "realismo" de uma segurança financeira, numa vida de luxo que, ironicamente, não tem nada de real.
Tom Ford orientando Amy Adams |
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