Inception: sonhos e obsessões
Sonhar é
essencialmente humano. Imaginar o impossível, conceber o inconcebível. Um
mundo de possibilidades à principio sem limites, promove uma mudança em nossa
realidade. Não estou falando somente do que sonhamos dormindo, mas sim de
quando acordados. É aquilo que enche nossos corações de esperanças todas as
manhãs, mas que às vezes, no fim do dia, parece que deixou pelo caminho um
pouco de sua força.
Em maior ou menor escala eles nos impulsionam. Aquele dia ruim e difícil pode ser superado com a esperança de outros melhores. Mas quando é que um sonho se torna uma obsessão, esta que nos cega e nos transforma em seus escravos?
Quando crianças
queremos ser super fortes, e com esses sonhos nos mostram desenhos para
comermos legumes. Quando adolescentes, a velha história do amor platônico,
quantos de meus amigos sonham com uma paixão impossível e nelas baseiam suas
razões de existência. Quando adultos o sonho se torna ambição. Sonha-se em ter um
apartamento, carro do ano, viajar o mundo, comer nos melhores restaurantes
(engraçado que quando idosos os sonhos simples costumam voltar, como estar
perto da família em momentos além de natais).
Em maior ou menor escala eles nos impulsionam. Aquele dia ruim e difícil pode ser superado com a esperança de outros melhores. Mas quando é que um sonho se torna uma obsessão, esta que nos cega e nos transforma em seus escravos?
“Sinto que ao longo do tempo, começamos a ver a realidade como o primo
pobre de nossos sonhos. […] Geralmente, nesses discursos é normal escutar “vá
atrás de seus sonhos”, mas eu não vou aconselhar isso. Quero que vocês persigam
a sua realidade” – Nolan explicando o final
Inception se retrai
no próprio ser humano, a ficção cientifica já explorou as galáxias mais
distantes e Nolan conseguiu inovar ao explorar algo tão pessoal para cada um de
nós, tão desconhecida e turva quanto um buraco negro. Se Cobb encontra ou não seus filhos
no fim é algo que vai de cada espectador ter como realidade ou sonho, e estas
duvidas servem como um tempero para essa narrativa sobre obcessões e lutos.
Aceitar o luto e
entender a perda é uma das ideias mais tristes que circulam a humanidade. Cobb vive algo parecido com sua
esposa, em seus sonhos ela ainda vive, diferente da cruel realidade. O que é a verdade
mais confortável para Cobb?
E à partir daí vem obsessão,
aquela que não nos deixa aproveitar um único segundo da vida, nos torna ansiosos e compulsivos. É um desejo interminável, uma busca incessante. Não por
menos o roteiro trata de deixar claro que uma ideia é o pior vírus que existe.
Quando ela se alastra é impossível parar. E isso basicamente define todas as
atrocidades cometidas pela humanidade.
Obsessão que meu país
é superior, essa ideia se alastra e passa a me definir. Obsessão que ela me
pertence. Obsessão em trabalhar mais e mais. Em algum momento a criança
sonhadora se torna o adulto obcecado, e que resulta em uma viagem ao limbo. O
limbo mental, o último estágio do sonho, onde vivemos a realidade
perfeita, com tudo no seu lugar. Mas somente nós estamos ali, e esse limbo
é vazio, e é o limbo que Cobb precisou
sair.
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