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Freaks and Geeks, quando Anos Incríveis encontra How I Met Your Mother

Recentemente a Netflix trouxe para seu catálogo Freaks and Geeks (ou Aborrecentes, na belíssima tradução brasileira), série produzida por Judd Apatow, envolvido em produções recentes como Love, da própria Netflix, e o sucesso Superbad. A série foi ao ar em 1999 e infelizmente por falta de audiência e conflitos internos na produção foi cancelada antes de ser renovada para uma segunda temporada, afinal, só teve seu devido valor reconhecido nos anos seguintes, recebendo até alguns prêmios.

“- Nós não somos adultos. Nós somos crianças até completarmos 18 anos.
– Talvez você seja, mas quando eu atingi os 13 anos, eu me tornei um homem.
– Isso é só no seu templo, Neal, não no mundo real.”


A série é um típico colegial americano ambientado na década de 1980, que assim como Clube dos Cinco cria todo um ambiente hostil recheado de personagens que ao primeiro momento são apenas estereótipos, mas ao decorrer da obra vamos testemunhando uma desconstrução destes padrões, a vantagem de Freaks and Geeks é justamente o tempo de tela para construção de seus personagens, não existe aquela dúvida no ar de "o que acontecerá no dia seguinte?" mas é convincente em suas respostas, o fato é que trata a juventude do modo que ela merece. Sem personagens muito cartunescos e bobos como vemos em outras retratos da época, como em That '70 Show por exemplo.

O roteiro se desenvolve através da perspectiva de dois irmãos protagonistas, Lindsay Weir (Linda Cardellini) e Sam Weir (John Francis). Lindsay era a menina prodígio da escola, sempre com as melhores notas, até o dia em que sua avó acaba por falecer, e isso altera completamente seus ideais e seu meio de ver o mundo, e nessa época conhece Daniel, um freak (seria como um delinquente) interpretado por James Franco, que apresenta para ela todo o que seria seu novo grupo de amigos, Kim Kelly, namorada de Daniel, Ken Miller, o "babaca" e Nick, o maconheiro, interpretado por Jason Segel, Marshall de How I Met Your Mother. Por parte de seu irmão Sam temos os Geeks, Neal e Bill, que reforçam aquele estereótipo de perdedor mas que, com o passar dos episódios, se tornam muito mais tridimensionais devido a exploração de seus núcleos familiares. A mensagem passada focando nos dois grupos escolares repudiados é justamente não ligar para sua reputação, como é visto já na música de abertura da série.

É a partir da família que começamos a entender o porquê dos freaks serem da forma que são. O pai de Nick é ex membro do exército e trata seu lar como um quartel. Kim mora com a mãe e o padrasto, extremamente irresponsáveis. Ainda temos Daniel, que vive com os pais em uma situação precária. E como a família de Lindsay e Sam é socialmente normal, estruturada, alguns dos freaks, como Nick e Kim, buscaram neles algum tipo de apoio. Kim aparecia na casa dos Weir algumas vezes para espairecer, e Nick depois de uma briga com o pai passa alguns dias lá. No caso de Nick, talvez o melhor personagem da série, o apoio foi um pouco mais forte, já que o pai de Lindsay se identificou com o garoto e deu conselhos para ele, como não abandonar sua paixão por tocar bateria, por exemplo.

Confesso que meus preferidos da série são os geeks por serem tão ingênuos quanto inteligentes, e responsáveis por alguns dos melhores momentos da série. Enquanto estava grávida de Bill, a mãe dele abusou de bebidas alcoólicas, e isso fez com que o garoto tivesse alguns problemas de saúde, e um deles era a intolerância a amendoim. Um dos episódios mais emocionantes foi quando ele comeu por acidente um sanduíche com amendoim, uma brincadeira de mau gosto por parte dos “valentões” da escola, e ficou em coma. Outro momento, porém divertido, foi quando Sam teve suas roupas roubadas e teve que correr pelado pela escola. Além disso os diálogos deles eram cheios de reflexões sobre o “eu”, sobre não aceitar ou aceitar quem eles eram. Mas o diferencial, é que tudo era feito de forma tão sutil, tão ingênua, e engraçada que acabávamos refletindo sem perceber.

Além da premissa interessantíssima também temos um diferencial que são é toda a ambientação oitentista, ao invés de apenas usar locações que remetam ao ano de 1980. Apatow foi feliz ao criar diálogos recheados de referências tanto à quadrinhos e seriados por parte dos geeks quanto aos movimentos musicais da época por parte dos Freaks, o fascínio do grupo por Pink Floyd por exemplo acaba se tornando muito aplicável aos fanatismos que compartilhamos no dia-a-dia, referencias estas nos situam muito bem, isso além de uma trilha sonora muito representativa, marcante e presente, que realmente vale à pena: Kiss, Deep Purple, Kansas, The Who e David Bowie são alguns exemplos.
E apesar de seu fracasso foi boa suficiente para se tornar uma comédia cult, presente praticamente em qualquer lista de séries adolescentes. E, citando novamente Clube dos Cinco, ela não serve apenas como retrato da adolescência de uma época mas sim como pinceladas atemporais de o que é viver a juventude (não comparando as duas obras em requisito de qualidade). Ela ainda acrescenta muito a vivência em ensino médio quando assistida em sua época certa, de fato nos faz questionar o que fazemos para nos encaixarmos num grupo. Ela fala com o seu “eu” de 16 anos, e trás em seus 18 episódios uma experiência única dentre as séries, e apesar de parecer pretensioso, o realismo único daquelas personagens fala com uma sensibilidade tocante. E, sem criar grandes arcos e histórias exageradas, mas apenas nos apresentando pessoas com virtudes, vícios e falhas como qualquer outra sem qualquer julgamento as atitudes dos jovens. Ela apenas nos mostra mais uma visão do mundo. Mesmo curta, Freaks and Geeks é uma série marcante para quem assiste. Uma das melhores e a que melhor consegue retratar o que propõe, a juventude, no caso.

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