Raw é uma verdadeira experiência sensorial
Durante uma espécie de “trote” na faculdade de veterinária,
a adolescente Justine se vê forçada a tomar banho de sangue animal e
comer rins de coelho. Esse ritual a transforma completamente, e de uma
vegetariana amante dos bichos, ela passa a praticar canibalismo.
Chamado Raw, da diretora francesa Julia Ducournau, ganhou algum burburinho com aplausos em Veneza e quando exibido no Festival de Toronto, onde algumas
pessoas desmaiaram durante a sessão. E foi com essa ótima carreira nos festivais que recebeu atenção extra, trailers vilarizaram e felizmente teve a expectativa cumprida.
Não é um filme para todo mundo, tem muita excentricidade em
pontos que a maioria não sairia da zona de conforto, ousando coisas
que não é todo mainstream por ai que se propõe, porém se existe um
interesse pelo cinema alternativo esse não passará batido, com coisas
desde pelos em axilas femininas até a sensualização da carne humana ele subverte
o gênero terror ao ignorar suas conveniências, e posso garantir que
takes em que a menina observa seu namorado como uma leoa observa sua presa são
muito mais assustadores que qualquer jumpscare. Apenas um ponto estranho do filme
foi o modo em que ele trata a adolescência, para um filme com uma proposta tão
interessante talvez uma pegada um pouco mais realista seria a dose certa, não é o caso: o
jovem médio da faculdade parece ser aquele imprestável de um filme médio americano que basicamente
só se importa com sexo, drogas e festas.
Mas pode se dizer também que esse retrato caricato é
propositalmente abordado por Julia, em um contexto em que o jovem se mostra tão
vago, só se interessando pela carne (nos dois sentidos) a critica se encontra ao elevar esse prazer pela carne para um nível muito mais
literal que realmente consegue te causar um incomodo, principalmente pelos
olhos da protagonista, à primeira vista uma jovem bela e recatada que passa por
uma desconstrução, e ao ser introduzida nesse novo mundo estudantil ela é
corrompida e toma cada vez mais atitudes precipitadas e narcisistas
(tão plausíveis apenas pelo excelente trabalho da atriz, Garance Marillier, que
sabe com exatidão demonstrar essa transformação de cena para cena), pincelando aquele conceito de Rosseau em que o homem é reflexo do externo, uma soma de toda a
exposição ao bem e mal que sofre durante a vida.
Com um visual intenso e provocativo e uma história cativante
e perturbadora Raw se mostra uma ótima pedida para um gênero tão desgastado,
abordando temas super relacionáveis que conseguem pescar o público para viver a
angústia da protagonista, criando assim uma daquelas obras realmente
assustadoras.
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