O problema com o "sombrio e realista", da série dos Titans a Watchmen

Super-heróis são famosos por suas aventuras inspiradoras e lúdicas, representando a verdade, a justiça e o jeito americano e a bondade de forma geral. Certo que o momento que estas histórias mais nos atingem são durante a infância, onde nossa inocência faz com que aquelas pessoas voando de fantasia façam algum sentido.

Acontece que recentemente, no meio das infantis (e não no sentido ruim) aventuras dos heróis da Marvel no cinema, como o Homem-Aranha do Tobey Maguire ou os filmes de X-Men do Bryan Singer a Warner fez a sombria e realista trilogia do Batman de Christopher Nolan, trazendo uma cidade politicamente relevante para a história tendo que lidar com um homem vestido de morcego, homem este com uma psique complexa e traumatizada.

Posto isso, percebe-se que um dos principais méritos do Nolan foi justamente a abordagem realista de um herói enquanto os outros se focavam no oposto. E, depois disso, veio uma onda de filmes da DC tentando surfar no que ele havia feito, só que com um diferencial os impedindo: eles não eram tão bons assim. Por um tempo (e aqui coloco até 2016 quando a bomba chamada Batman vs Superman polemizou e fez a Warner mudar de pensamento) a estratégia foi justamente manter essa sombriedade - por isto a escolha do Snyder foi bem óbvia -, e embora eu goste muito de sua interpretação do Superman e do Batman, para uma visão sombria do superman fazer sentido precisamos primeiro conhecer sua versão idealizada, e aqui o diretor falhou.

E esse realismo por vezes gratuito voltou a acontecer com a vinda da série live-action do Titans e os "fuck batman" da vida, como se ser realista fosse mais valioso do que a qualidade desse realismo. Esta situação me pareceu um déjà-vu de todo o momento editorial que os quadrinhos americanos passaram depois de Watchmen, Cavaleiro das Trevas e Maus em 1988. 

Depois dessa safra uma série de quadrinhos com temáticas adultas surgiu no mercado, o próprio Batman (na época roteirizada por Jim Starlin) representa perfeitamente este movimento, ao tentar transformar as mensais em Piada Mortal/Cavaleiro das Trevas deixaram a Barbara Gordon paraplégica e mataram o Jason Todd numa história boba e gratuita. Acontece que, como o próprio Alan Moree dizia na época (antes de se tornar critico aos super-heróis), Watchmen só funciona e é tão chocante - e aqui coloco além de todos os méritos de roteiro e arte - porque existem todas as outras histórias lúdicas de super-herói a permeando. Tentar fazer realismo só porque diverte é matar, aos poucos, o próprio sentido de se existir essas figuras inspiradoras idealizando o melhor que podemos ser.