Bingo é uma homenagem à cultura pop oitentista nacional

“O Brasil não é para iniciantes“, anuncia Vladimir Brichta ao criador norte-americano do palhaço Bingo em uma das cenas do filme que adapta de forma livre a história por trás das câmeras do ícone Bozo. Sucesso da TV brasileira nos anos 1980, ele revolucionou a forma com que a telinha lidava com o público infantil, numa época em que o politicamente correto não existia. Além de ser uma oportunidade de conhecer os bastidores dessa que é uma figura muito significativa no imaginário nacional, Bingo também leva o público a uma viagem cheia de referências pela década de 80 e, mais importante, homenageia a cultura pop de um país tão cheio de peculiaridades como o nosso.

Gretchen, Xuxa, pornochanchada, brinquedos clássicos, o rock revolucionário da época, a onipotência da novela das oito, as liberdades que o período trazia, está tudo ali representado de uma forma muito crua e por isso de fácil identificação. Bingo: O Rei das Manhãs é o nosso país em sua essência, um lugar fissionado por televisão, cuja programação sempre refletiu o modo de vida da população; e assim sempre com espaço para um pouco de sacanagem.

O Brasil realmente não é para iniciantes, e o longa deixa isso bem claro. Enquanto a nostalgia pode aquecer o coração daqueles que viveram o período retratado no filme, aos mais jovens logo saltam aos olhos os absurdos da época, principalmente em comparação a como as coisas são hoje em dia.
Este sendo meu caso. Vi o filme com meus pais e de certo modo Bingo conseguiu me conectar com eles, se a cultura pop reflete tanto em quem a consome o Rei das Manhãs é sublime em mostrar como foi o imaginário dos anos 80 que criou uma geração. Como incluir diversidade num programa pode ser – absurdamente – condenada como “ditadura do politicamente correto”? Bingo tem respostas convincentes. A história existe para ser lembrada, e o filme de Daniel Rezende tem tesão em lembrá-lo desses anos trevosos e saudosistas.